domingo, 23 de dezembro de 2007

Delirius tremens (3ª parte)

3ª parte

Próximo Acto
1.

A cena passa-se, onde o campo de trigo cede o lugar à forma vazia de uma ausência cortante, Entretijiolada
Apresento-me, eis a folha em branco, os meus suspiros almaços, Entremim e eu,
Sei que não sei, apresento-me, eis a espera de quem não sabe porque diabo espera, a resposta que não se faz esperar, Entre mim e eu,
A presença sonhada de quem me escuta.



2.
Carregas a arma e já estou a sonhar, num instante disparas, distingo vultos tresmalhados com o teu nome e identifico-nos em livre trânsito pela realidade, A maluca fala de Percival, Greg voltou a apontar o rosto do motorista do 31 como seu, saímos juntos para comprar um olhos bonitos para a morte, Começo a acreditar que é ele a causa da minha perda de sono, a par dos cafés que bebo, e dos cigarros que fumo, Estou em crer que é tudo uma perda de tempo, que a dificuldade em permanecer neste quarto se deve à tempestade que se aproxima, Não tenho dúvidas de que será imensa, de há muito embrutecida;
Apanhe-se a roupa, calem-se os meninos, esta veio para nos levar Greg, e à maluca que luta com a morte, Os pombos estão como nós e não sabem para onde voar, vai tudo pelos ares, Segura as rédeas, os cavalos que não se esqueçam de voar, só me vem à ideia a chuva nas vidraças no coração de Setembro, a corrida de gotículas no párabrisas, o resto passou, já não é, foi-se com os outros
Desta vez prometo que começo e só páro quando não puder prosseguir, que as palavras virão depois do chá, sou fraco, tão fraco que não me seguro nas pernas, mas na ideia de andar, tão fraco que carrego o mundo às costas como um titanzito de pouca monta que libertará Prometeu num apocalipse entardecida.

3.

Agora, agora, dois agoras e o mesmo depois

Agora, um agora e um depois

Agora, “Eu”
Outrora um relógio que tinha um braço
Com queda para as letras

Agora, capaz de te abrir acima do sol, apeado
Aqui, à minha espera por este rio acima
Herdeiro de uma catásfrofre lusomaritima
Na pulsão de beijar a coisa
Num não, não-te-permito-morrer-já
Mas logo que as maçãs fiquem mais belas
E a força corte a direito a loucura
Fazendo tábua rasa ao tédio

Agora, deixo-te e vou à cata do vento
Ou do segredo que o cospe
Numa sensação de relaxa-me-saber-que-não-sei-o-quê
E que devo ter algo a dizer
O que me fode é esta asneirada entre os dentes
A calma que o raio do yoga deve trazer
não saber porque mostro isto tudo
Mas ainda assim, supondo a tua perfeição
Ser então o teu amante , anos sessenta-setenta

E, um agora depois
Em que as putas se afeiçoam-se a deuses ex machina
Fico à espera como me mandaram


Um agora, e um depois
Rimavas comigo num verso branco
Em que tudo soava a delírio
E era Prometeu que gemia,
Em Outubro sublimava um hino ao caos
Aproximando-se a verdade pela alcatifa ultramarina,
A pés de veludo azul,
Ameaçou foder tudo o que se mexesse
De volta à fresta que o deitou cá para dentro
Da mente de um americano
Transgressor da estética do código da estrada
Algures mais acima, junto à nuca
Num musical crescente em altura e nós
À praia desse beijo de maçã
Nessa mesma noite submergida
Em prelúdio fino


4.

Afogado no mármore branco de uma circunspecção de rotina
Às paredes roxas dum dorso sublime
Dirige-se ao centro para arder
Na essência unho-roedora
De um cavalo a vapor
Urdida electricamente sobre os telhados
Pelos corpos em chamas
Súbita e invalidamente ostentada
A clavículas de sabonete
Silabação turva d’ absoluto,
Na variação ininterrupta de uma cidade fantasma
Vasculhada no faro engripado duma puta dos subúrbios
Na rosa seca que colhe entre as pernas

“E talvez...
um campo de papoilas”, adiante
a esta vontade de ser mundo
Talvez chame os trovões a permanecer idênticos
num-não-é-medo é o que quer que possa significar
a estátua de Neptuno,
E talvez a noite nos embale
fremida de irrestrições
e o vagido percorra tectonicamente
as entranhas do teu sopro
Talvez corra a ver
os corpos mutilados na praça
Talvez as paredes se fundam no nosso ver dopamínico
e a casa voe na porção escumante dos teus suspiros
Talvez me entendas, talvez não fique para saber
e caia de novo, de costas largas, tão aí, à mão de colher
e prefira a faixa ao vivo,
suspeitando da almofada, em escalpelações surreais
Talvez porque debaixo do córtex cresceu
uma estepe com mais olhos do que barriga
e dois espaços floridos entrelaçando-nos as mãos
No rumor das sombras
No arranhão da minha nascida
Que mais parece uma cintilação escorregadia
Nas parábolas absurdas da minha capitania
Numa trituração pulmonar
Que mais parece um manifesto d‘ondas engalanadas
Numa solidão de margem,
Nas entrelinhas para lá do poema,
À estrada de molas coloridas, ao balancé da máquina de costura- automóvel, que me trouxe directamente aqui,
Ao trampolim surreal duma trova pós - pós – punk
Que mais parece um testemunho sob tortura...


5.

O problema sou eu
Eu, só eu
que me iludo
És tu, só tu
que me anseias
lunarmente
É ele, só ele que se vem nas dunas
Somos nós, só nós
que desaprendemos o caminho
Vós, sobretudos esfíngicos
São eles, só eles e um abismo d’entremins
aos gritos
É uma ideia de espera.



Aluvião psicanalítico

1.
Encontra-se confortavelmente
De cabeça baixa
prenhe de estética
japonesa
sonho filmado
fotograma almado
pai de partida para o Porto
ajuste de contas aportado
imortalidade da boca para fora
vulnerabilidade intransigente
cartas na mesa
urgência analítico-vidente
aura social volúvel
libertinagem grave
perigo respiratório
estrada florestal
decepada como a serpente
a golpe de espada
suposição fatal
imortalidade pecaminosa
renascimento da ferrugem
cabeça gatiforme
dorsado réptil
silibação grotesca
manápulas de poeta
romantismo a talho de foice
martelo imperial
combustão estrelada
compensação
frustrada
cantilena de colher
demência original
expectativa
aplauso
expectativa
loucura
expectativa
morte
expectativa
lua de Saturno
familiar
queda ao mar
água engolida
afogamento eminente
poético
hiperbólico
delírio, inacabado
incapaz
devastação
talvez
novidade aérea inconsciente
rima ausente, recusa audaz
jorro desengonçado
valsa trôpega
papel de parede
simetria de pauta


2.
Candelabro fundeado
essência ilumino-retráctil
Madrepérola contadora de histórias
Invasão surpreendida entre bocejos
Ininterrupção sustida a custo
Segredo cifrado
pela raiz, como a fonte
Convidado a discorrer imelodicamente
Prosápia de incandescer violinos
Avidez sonora trauteante de abismos
Vontade salubre de esvair bolhas
Olhar plácido intransigente
Ocaso flutuante-adormecente
Lamento volúvel ensimesmado
Grasnar electromecânico
Escultura de silhueta esguia
Egoretininte
Pulsão poética
Segunda vaga sombria
Neo agoiro
Descanso diurno
Gazeta ordinária
Às apalpadelas
Trapézio sem rede
Colapso trigonométrico
Descrição difícil
Dias estranhos
Metamorfose
Festim de abelhas
Planeidade d’alcachofras
Conto berrado
Crepúsculo porcelano
Sortido d’ ósculos
Veneração ruidosa
Senhoras de branco
machos de saias
Filigrana pontífice
Geração dromedária
Cosmicidade engessada
Abstracção podre
Fermentação espírita
Atomismo etéreo
Mónada sinfónica
Transposição aparente
Calçada indisposta
Refluxo intransponível
Trejeitos defensivos
Ruína pleonásmica
Desenlace inextenso
Ideário inconsistente
Congregação silenciosa
Resistência passiva
Confissão frívola
Amputação benevolente
Engajamento corante
Camaleonar esplendoroso
Toalha ao sol
Traineira de berço
Alvéloa periódica
Cirandação desvã
Personificação malévola
Antropofagia salutar
Virilidade cadafálsica
Roedura aftosa
Derrocada onâmica
Sementeira vulcânica
Desabrochar cavernoso
Adjectivação primeva
Colheita tardia
Melopeia ociosa
Outro dia...




Vagar ambulatório
1.
Entre o tempo e a sua liquidação
atempada,
Entre a reverberação flácida de instantes
E outra forma de passar à história,
Entre o nosso linguajar senil
E esta vigência ambulatória
Que nos toma pelas mãos,
Entre a escotilha translúcida
E o que se adivinha dos passos,
Entre metal e forja
Poema e psiquismo,
Entre circunvoluções e tabaco

Entre empinações de sondas anguladas
E verticalidades lúbricas,
Entre o céu de lá e este lugar alto
esbaforido mental,
Entre pés acelerantes
E passeios corridos,
Entre semáforos e mendicência
Esmalte e palitos de pinho
Bigodes fartos e palatos boçais,
Entre o cilindramento a sós
E a sucessividade alternada de presenças,
Entre caos e confusão
Noite e dia,
Entre a altacostura terráquea
E um punhado de divagações atlânticas,
Entre pão e fermentações alciónicas



Entre gritos encenados
E unidade estilhaçada
Entre escritos estratosfeéricos
E convulsões abstractas,
Entre as mãos
E o tempo levado a sentir

2.

A formulação simples
sobre os malmequeres ensandecidos
A vagidão que parece que tenho
em comum com o jardim da estrela
O peso que carrego
em périplo espacial
como uma solução d’ enxofre
vertida à tarde em serviços de chá
A bailarina de braços partidos
ao rangerange cordato da melodia encaixotada
A chama de agoras engomados
ansiando o nunca mais é
A rarefacção lírica
dum divórcio em branco


3.

!Oh, sombria divagação
Lucubração paralítica?
!Oh, quem espero
O turbilhão que o veste?
!Oh, tontada aero literária
Inquisição materna,
ver aquático?
!Oh, enfim a origem
Caminho diamantino,
estarrecimento de génio?
!Oh, poção tóxico-ambrosina,
Olimpo contrafeito?
!Oh, máquina de decidir tinos
Destino de musa?

4.

Onde foi a noite das pálpebras duras
é agora a demência
polaridade sináptica
têmporas desengolfadas a vapor!
Por que deserto te abres?
Porque fenda me consentes
d’agora em diante?
Pela meia fibrosa que te trepa pernas acima
ao debrum sarapintado onde equilibras
os cotos de porcelana?,
Pelo tocar-te só
e sentir-me o reflexo desses dedos?,
Pela exalação espelhada com que te esbato
à média luz de encontro a Platão,
elipticorectangularmente enfaixada
nas persianas?,
Pelo que não me impede de correr por aí
calibrado de insónias e gritos,
e de te apertar transparecida
nesse atentar-sobretudo-contra-tudo
o que permanece desse lado,
colapso sobre colapso?,
No estertor mediúnico
da fábula infame
que conservas debaixo das unhas
como um mote emprestado?:
Abaixo! a rede celular elástica,
A protoestrutura medular,
O vertido químico de sombras diurnas
professadas desde o abismo
em contagem estelar,
Os ecos sumarentos de uma polvilhação calcária
como um canto voraz e cristalizante,
A persuasão colérica das cores
como uma segregação perene
desabrochada paradoxalmente
de mãos hirtas aos céus,
A fuga vendada sobre um só gume
endemoninhado, como o húmus
recoberto de folhas secas,
O silêncio chumbado
que te amordaça sobre a tez lívida,
E o ventre, a golpes de pulso,
A fúria de transpirar ruas
a toque de caixa
no sopro da memória,
antes que o céu fosse só tecto,
Não neste mar mas no refluxo secreto
das nascentes,
No grasnar rouco da tarde
de quando setembro já só havia
em melancolia e suspiro,
Num rosto forrado de noite,
No que apetece cantar de breve
vagamente isolado, beatífico
de par em par,
vulcanizado de flores
Veloz, grave, degenerado
Pomar aéreo,
Onde todas as manhãs são procuradas
pelas dunas membradas,
No frenesi vivo de um braço de areia
agitado por milagre
assim, por que sim
sentido, impregnado, guiado
de cadência verborrenta
Sobre tudo, assim
pelo ter que ser
fulgor liquefeito
convulsão de girassóis
por mais um dia, invejoso
da criança que nunca viu o mar
e da pressa que a leva,
Pelo corredor fluído do Bus
por culpa destes tropeções quase meus
e por mais um dia de profundo tédio
morto num instante,
acordado nu, cego, surdo, absorto algures
invadido de novo,
Ao cume pueril
chovido de mins,
Nas pernas esguias
que te enrolam o dorso,
Na poeira astrológica
que te atiro aos olhos
Por nova inalação de margem

4.
Tremiam as mãos, inchavam os pés
na chatice do caminho
Proliferavam as feras, delizavam as lâminas
consensualmente ensonadas
Numa seiva de moléculas deitada de costas
escorrendo palavras aos pares
Lá de cima ao tombos
de volta aos braços esguios, às auto-estradas
ao meu coração berrado de borboletas
Queriam o mundo e queriam-no então
amavam o fundo e tudo
vomitavam entranhas, colhiam as flores
atrás do pano que sobe ao primeiro acto
à corda que os dependura
como a um decote de opereta
ao último acto libertador
Queriam falar de ti mas as línguas entaramelavam-se
e atrás delas a boca infernal engolia toda a merda
atrás dela, eram dezasseis horas no purgatório
e quatro minutos volvidos
eram os lençóis duma prisão Líbia

5.

Quem avançará comigo na escuridão
com quantos filhos conta agora a noite
vindos dos bosques e dos corações das crisálidas,
das cordilheiras postas a nu, das guardas vãs,
das quedas abruptas, dos mistérios de um tipo que tocava flauta
d’alguém importante
de uma nascente caótica, das vagas ou por elas
com o desprezo do que se eleva e desfaz na areia
Descalço e despido de rosto
numa precisão anamnésica de vir
de sempre, saudosa do desperdício alvo dos dias
Desarmado, aparentemente razoável
como as cores florescidas a despropósito
Só.


6.

Então, vem ver os dentes novos da avó
Vem, não nos deixes
A sós com o que fizemos de nós
Vem, não fiques à beira
A ver-nos passar
Como quem não quer a coisa quieta
Podes dançar, beijá-la a correr
E embarcar,
Vem, esquecer-te de mim
Connosco à ilharga
Enrola-me lá nisso
Atiça-nos a porra do lume
Corre daqui para fora
Ao labirinto
De tudo sonhado
Sobre tudo
Desgraçadamente iludido
Vem

7.
Aqui o limbo,
Além a serpente de alças equinócias.
Aqui o que jaze,
Além o que foge à dor, conformado.
Aqui o entusiasmo,
Além o vazio.

Aqui e além,
o silêncio das feras,
a harmonia do universo

Aqui a parte,
Além a ideia do todo,
o tempo das histórias a diesel
a resistência das violetas,
tempo de gritos e amor travestido...
Aqui o delírio,
Além, e depois dele
A suspeita de mais nada.



2º Dto da paranóia

1.
Os sacanas riem-se de mim
que não sei a quantas ando,
parece que sou perito em não saber
onde ficou a minha outra vida,
para que serve a poesia do meu neto,
por onde entro para casa
qual a chave que abre a portinhola do correio
em que esquerda fica o outro coração
o que estou a beber ou
onde ficou o meu poder de policiar ruas
Os sacanas riem-se da merda do velho
que conta o dinheiro em paus
dividido entre os cafés do bairro e os cafés da aldeia
nuns e outros, pela mesma poção
a mesma treta alardeada
Os sacanas andam lá pelo interior a encavar as velhas
e depois deitam-nas ao rio:
– isto há gente para tudo;
parece que se puseram na mulher do Pianço
– uma corja de bandalhos...
Riem-se da caixa de cartão que te serve de mala
das golas surro-abastadas dessa tua miséria tola
dos dentes pousados na mesa do café snack bar
qualquer coisa a branco num toldo,
da perdição de todos os dias

2.

Pedi-te uma daquelas coisas que andam pelo céu,
trouxeste-me uma pistola desmunida
e o dever de dispará-la a matar.
Hoje sou como tu, um velho fumador de ópio
deslindado-ocioso
Que perscruta o mundo daqui
num gorjeio almado sobre as serras,
levado em braços à última morada
chorado e esquecido num mergulho de rio
no delírio que o busca
dentre as coisas do mundo
em exalações de aguarela
Que berra o teu nome à toa
e perverte a ordem do tempo
na placidez seráfica das feras,
Que vasculha dentro de ti
às apalpadelas de mim
e engendra esta forma de ficar só

3.

E logo que a manhã o chamou da larga espera de um dia que era afinal
o último
O coitado subiu a bordo e accionou o unicórnio alado estacado junto
ao leme
E quando as filhas do tédio – Rotina e Solidão –, o agarraram pelos
colarinhos
Deixou para trás um ai e embarcou só numa ideia louca de
intemporalidade
Apertou o sobretudo até cima, erguendo-lhe a gola em riste
Passou a mão pela cabeça e vaporizou-se no fumo azul do seu último
cigarro,
Abandonando o poema num amplexo entre margens
dobrou a esquina e começou o delírio.


Mitopoema

1.

Deixava-se escrever nua da cintura para os lados
Escusado será dizer
Que o amor tudo vencia
Que havia encostas de desenvoltura
Deixadas a correr
Que o seu avançar se fizera lento
Que estava Eu e a Ausência trémula de mim
Miticamente fecundada,
Os raios que me amadureceram,
O ânimo que me agarrou pelos braços
A ladainha relentada num labirinto de espigas
Sulcado aos passos interditos de um anseio de alucinar luas,
A iminência nocturna de sempre partir.

2.

Luz à face do abismo
Palavras e tempo
Condenadas ao ser vivente
Paixão inclemente
Carne e gordura
As águas e o andar sobre elas
Um raio que parte
E um oceano que divide
Houve por que guardar o paraíso
E criar o rapaz,
Para que a terra frutificasse
E a obra soubesse renascer,
Por que escrever
E assumir a culpa, confessar
A loucura de haver alguma coisa
O livro escancarado
Num gritar de socorro
Que os poetas conhecem
Por dentro


3.

A origem revelada
Cosmologicamente
Num ponto desdobrado em muitos
A explosão das estrelas
A essência absolutamente ferida
Vertida d’instantes

4.

Conto-te ó Tempo como tudo se passou:

À frente e primeiro que tudo seguia o Caos, e dele não havia sombra parecença ou pensar.
Por cima resfolegava a Noite e as suas convulsões eram consteladas
Medonha crescia a noite e o querer possuí-la
trazia pela mão essa raça ferida d’absoluto,
arrastando em seu nome as asas, como um testemunho ensandecido.
Depois, quando tudo já podia nada parecer e a confusão ganhava flor
sucederam-se as imagens como crias, multiplicadas sob as ordens pouco claras do engenheiro celestial,
Ascendiam às montanhas inspiradas de vento
E respirar devia-se, sonhar também,
Mas o Caos já se amava ou dizia-se perdido entre flores e espuma,
E havia alguma coisa em torno do principio, escaqueirado em dois murmúrios,
Havia um que sofria de Amor e ao Caos obcecava
um tal que se dizia possível, recorrendo a um principio
menos usual de supra-realidade
Havia outro que não se incomodava de habitar alguns romances franceses,
E trazia a cara de quem vive da colheita das censuras, pois as mãos encontrei um tudo nada mascarradas de fuligem de um género ansioso metaviolador.
A dificuldade passava pelo processo contra o Tempo
que parecia escutar também ele o canto algodoado de Morfeu
embora encolhesse os ombros ritmadamente como que a dizer:
– Não compreendo patavina...
A expressão mostrava no entanto tratar-se de algo importante
ou então, mentiam bem as sacristas escondidas atrás dos caniçais no seu recreio noctívago,
de seios emboscados no turbilhão que troca as agulhas do sono.
Os poetas ficavam por lá esquecidos
e a palavra sofria no lugar do abismo
a harmonia vencia o amor pelo cansaço
cindindo a totalidade em pares infindos
a Vida seguia enfim ao seu termo etéreo,
De elmo coruscante e lança em vez de braço

1 comentário:

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