Vivia duma neblina
Mascava o lábio inferior
Escrevia-se de modo pouco musical
Quando a manhã o agarrava pelo pescoço
Sonhava com colarinhos brancos
Era uma caixa de cartão à tanto tempo...
Divagava o seu hálito matinal
E da montra de esmalte
Impendia o cigarro mantido apagado
Subscrevendo replicadamente o manifesto
ADMITO A REALIDADE / admito a realidade
Acendeu o cigarro e mentiu
Debaixo da almofada guardava a pistola
As balas tinha-as o coração
E tudo porque a luz não era um rio de verdade
E o sol inundava tudo
Porque inocular a sombra matava
E mais por ela é que vivia
Havia muitos fogos que não dormia
Era um laivo escarlate aquecido de morte
Dividindo a cama com um glaciar
Ébrio de sol
Tinha um filho anónimo
Que carregava nas costas largas de Sísifo
Porque tinha mais que fazer
Amava por correspondência
A memória que não lhe pertencia
E passava os dias a morrer
Era uma coisa como outra qualquer
O que é?
Perguntava e sabia responder
Em grego e só depois em Alemão
Nem uma coisa nem outra
Mas o sol exangue na escuridão
O futuro gotejado numa lâmina d’inox
A irradiação implodida
Venerava um velho metafísico
Que o esfaqueava pelas costas
Planeava ficar órfão
Mas a luz tinha a forma de berço
Como um tendão enastrando a espada
À noite velejava, um azul de metal
E deitava-se à sombra das rajadas
Armado até aos dentes
Aninhando-se na suspeita
Corre que pedia à sombra para lhe selar as pálpebras
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